60 Anos da Faculdade de Medicina: Defendida uma formação que inclui dimensões humanas
- Criado em 10-10-2023
Oradores defendem a necessidade de um ensino de Medicina que toma em consideração aspectos de humanização, explicando que a actual formação é baseada em conhecimentos académicos sem se ter em conta as dimensões humanas, nomeadamente atitudes e práticas.
A tese foi defendida recentemente, no Campus Principal, pelos palestrantes do simpósio “60 anos da Faculdade de Medicina da UEM”, evento que decorreu no contexto das Jornadas Científicas desta instituição de ensino superior.
Na ocasião, o Director-adjunto para Graduação na Faculdade de Medicina da UEM, Prof. Doutor César Palha de Sousa, afirmou que é notória a avaliação não estruturada, sequer coordenada, das dimensões humanas em algumas unidades clínicas.
“Deve se fazer uma revisão ao perfil do médico, particularmente na questão do profissional nacional e no aspecto de reconhecimento internacional, pois são poucos estudantes que apreciam este mérito importante. No fundo, deve haver revisão da cultura do Serviço Nacional de Saúde, o que supõe conhecer o que é cuidar, neste caso, a essência da medicina”, sugeriu.
No concernente aos desafios pedagógicos no ciclo básico, a fonte assegurou que resultados de um inquérito feito aos estudantes mostram que estes têm dificuldades de gerir e processar muita informação leccionada, bem como de separar o essencial do complementar.
“A existência de textos actualizados em língua estrangeira limita a assimilação das matérias. A heterogeneidade mostra que há estudantes que progridem em velocidades diferentes, o que torna difícil o processo de ensino e aprendizagem. Há fraca integração e prevalece a interação directa entre estudante e docente e há um fraco uso de tecnologias para uma articulação simplificada”.
Cesar de Sousa deu a conhecer a história da instituição, destacando que, em 1963, nasce a Universidade, com a designação de Estudos Gerais Universitários de Moçambique e que, em 1968, se transformou em Universidade de Lourenço Marques, o que significa que antes da independência a instituição apresentava um currículo português.
“Ela era dotada de Hospital Universitário até 1976 e, no ano seguinte, passou a ter Hospital Escola, o que mostra a diferença de ênfase, pois no primeiro caso temos uma instituição inclinada no ensino e que faz a prestação de cuidados. Já no segundo caso, faz a prestação de cuidados e o ensino ocorre dentro deste mesmo contexto”.
Acrescentou que, nos últimos 20 anos, houve abordagem curricular por competências, com ênfase na avaliação objectiva e padronizada, diversificação dos conteúdos assim como foi observada a avaliação das habilidades e postura para além dos conhecimentos ainda não reflectidos no currículo ou na metodologia actual.
Por sua vez, o Director da Faculdade de Ciências de Saúde da Universidade Católica de Moçambique, Prof. Doutor Ramires Mlucasse, disse que a instituição que dirige contempla disciplinas de humanização, com destaque para Habilidades Básicas de Vida e Habilidades de Comunicação, que de uma forma contínua reforçam aspectos relacionados com a humanização.
“É importante que seja implementada uma política nacional de humanização em saúde, que concentre nos três principais pilares, nomeadamente a inseparabilidade entre a atenção de saúde e a gestão dos processos de produção, a transversalidade dos cuidados de saúde e a apropriação da sociedade nos assuntos referentes a saúde colectiva”, destacou.