“Estamos apostados na produção de conhecimento científico sobre temáticas de género”
Profª. Doutora Gracinda Mataveia, Directora do CeCAGe
O Centro de Coordenação dos Assuntos do Género da UEM (CeCAGe) quer apostar forte na produção de conhecimento científico sobre temáticas de género. Com efeito, está a envidar esforços no sentido de estabelecer um corpo de investigadores, apesar de reconhecer que o CeCAGe deverá continuar a contar com outras unidades.
A Directora da Unidade, a Profª. Doutora Gracinda Mataveia, reconhece que a temática de género é transversal e, como tal, as pesquisas podem ser desenvolvidas por outras unidades, nomeadamente Escolas e Faculdades. Mas confessa que o seu maior desejo é ter um corpo de investigadores do CeCAGe que possa se concentrar em estudar casos específicos endógenos à própria Universidade.
Aponta como grande realização dos últimos anos, a elaboração e aprovação da Estratégia de Género da UEM (2020-2030) e do respectivo Regulamento de Prevenção e Combate ao Assédio Sexual.
Directora, qual é a avaliação que faz com a aprovação destes instrumentos? Quais são os resultados?
Fazemos uma avaliação positiva desses dois instrumentos. Como disse, a Estratégia de Género previa a elaboração do Regulamento de Prevenção e Combate ao Assédio Sexual na UEM e, como sabe, esse instrumento foi elaborado e aprovado.
Neste momento, para o tratamento das denúncias que têm chegado ao CeCAGe, temos estado a orientar-nos com base nesse regulamento.
Temos estado a fazer, também, a divulgação desses instrumentos. No ano passado, por ocasião dos 16 dias do activismo, divulgamos os instrumentos através dos pontos focais de género da UEM. E sempre que somos chamados às Unidades devido a casos, reservamos sempre um momento para consciencializar e divulgar estes instrumentos, por saber que se trata de uma temática sensível e há uma necessidade de informar as pessoas.
O processo de socialização vai ser contínuo dentro da Universidade porque, a cada ano entram novos estudantes, há mudanças de directores dos cursos e das unidades orgânicas e há um dinamismo dentro da Universidade que precisa ser acompanhado. Precisamos de abordar essas temáticas de forma contínua.
Objectivamente, o que se pretendia com a aprovação do Regulamento de Prevenção e Combate ao Assédio Sexual?
Foi para regular as relações entre colegas, sabendo que estamos inseridos dentro de um ambiente académico. É um instrumento que encoraja as boas práticas de convivência, porque um estudante, docente, investigador, CTA e dirigentes devem elevar o bom nome da instituição e não se envolverem em questões que colocam a Universidade numa situação de descrédito em praça pública, lembrando que somos uma universidade de prestígio e a mais antiga do país.
Falou de denúncias de assédio sexual. Qual é a média mensal ou anual das denúncias de assédio sexual na UEM?
Não posso, neste momento, precisar. Mas é uma realidade que temos casos pontuais em toda a universidade. E estamos até a preparar um estudo juntamente com o Centro de Estudos Africanos (CEA) sobre a real situação de assédio sexual na Universidade Eduardo Mondlane. E o resultado desse estudo vai conduzir-nos à acções concretas, de modo a minimizar esta questão na UEM. O ideal era eliminar o assédio dentro da Universidade, porque as raparigas envolvidas não conseguem desenvolver todas as suas capacidades no processo de ensino a aprendizagem, nem conseguem terminar os cursos em tempo útil, devido a situações anómalas.
Quais são os grandes desafios do CeCAGe neste momento?
Temos que trabalhar na produção do conhecimento sobre temáticas de género e procurar estabelecer um corpo de investigadores dentro da Universidade, isto apesar de reconhecer que trabalhamos com outras unidades. Porque, tendo em conta a temática que podemos estudar, podemos ir à Faculdade de Medicina, Faculdade de Letras e Ciências Sociais ou Engenharia, usando, deste modo, todo o conhecimento produzido na Universidade sobre a temática de género; esta é uma temática transversal.
Mas o nosso desejo é ter um corpo de investigadores para que possamos estudar casos específicos de dentro da própria Universidade, porque há caso que achamos que merecem ser estudados dentro da própria instituição.
Há este desafio também de a Universidade desenvolver mais pesquisa sobre género?
Sim. Mas nós como CeCAGe temos estado a desenvolver acções para informar a comunidade universitária sobre as temáticas de género. Pensamos que incorporar as temáticas de género é fundamental, porque as vezes a pessoa desenvolve uma pesquisa, mas não tem a ferramentas de como identificar a componente de género na sua própria pesquisa. Então, quando nós oferecemos cursos, damos aos investigadores ferramentas que os habilita a captarem esta temática de género dentro do seu próprio projecto.